Já se indagava o Cabo Matias (personagem do filme Tropa de elite): “Por que só tem passeata contra a violência quanto um filhinho de papai morre?”. De fato, essa questão permanecerá sem resposta até os dias de nossos tataranetos, mas a realidade latente é que essa pergunta só faz aumentar a indignação das famílias pobres que vivem a enterrar seus filhos.
Entre os dias 1º e 25 de maio deste ano, 173 pessoas morreram em Salvador assassinadas, isso sem contar os atropelamentos e mortes causadas por doenças (Dados apresentados no Na Mira, em 25 de maio de 2010). Mas nada foi tão escandaloso quanto a morte de uma estudante de Jornalismo de uma universidade muitíssimo bem conceituada que residia no bairro de classe média de Brotas, na capital baiana.
Os outros 172 do mês de maio são tratados apenas como números, como partes de uma estatística que enchem os olhos a mídia majoritária e é um tormento para o Estado. E é assim que os mortos da classe trabalhadora, muitas vezes feitos em virtude do financiamento da burguesia, que enche os cofres dos traficantes e corrompem os policiais, são tratados como mais um, e mais outro, e outro, e assim se vai.
Já se tornou normal ver na televisão, nos jornais ou nas ruas corpos salpicados de balas, cabeças decepadas, vítimas torturadas por uma guerra da qual não quiseram participar, ou seja, são vítimas de um sistema desumano, sanguinário e indiscriminado.
Mas se os mortos da classe trabalhadora são tratados com números, como cruzes a mais em um cemitério qualquer, os filhos da burguesia são venerados, seus mortos ganham lápides de mármore, suas cinzas são depositadas em urnas de bronze. E se a morte é violenta, como as Eloás, Isabellas, Lauras, Glaucos, a mídia trata um caso isoladamente por anos, se necessário.
Tratam a morte de negros favelados, pobres, qualquer um que não tenha cabelo ondulado e pele clara como um bem para a sociedade, como se o oprimido fosse uma ameaça, como se o favelado fosse o lixo social, mas é a favela que alimenta o centro, até na hora de os filhinhos de papai consumirem suas drogas.
Em verdade, tratam o assassinato de um bem-nascido como algo inédito, inacreditável, como se a família e a escola do pobre educasse-o para roubar matar e cometer demais delitos. Delitos que não são nada se comparado aos ensinados pelas escolas para a burguesia.
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