Por: Everton Marques de Carvalho
Esse texto é um desabafo. Desabafo contra o vírus do paulistocentrismo, vírus este que subju-ga a outras regiões em prol de uma identidade regional que se resume a depreciar os que a ela não pertencem, e enaltecem de forma fajuta o progresso do centro-sul do país.
Não poucas vezes é encontrado vagando pela internet textos, comunidades ou fóruns em por-tais de relacionamento ou blogs que acusam os nordestinos de serem o câncer da população brasileira, de serem a causa maior de todo o atraso que assola o Brasil.
Como se não bastasse colocam os nordestinos como responsáveis por tudo de mau que acon-tece ao país e até pregam um novo holocausto – o termo holocausto tem sido usado ultima-mente apenas para referir-se ao genocídio cometido pelos nazistas contra os judeus, aqui é empregado em um contexto diferente, mas com o mesmo objetivo, o de fazer uma limpeza étnica, eliminando da população brasileira os nordestinos – ou uma deportação, uma expulsão dessa importantíssima parcela de nossa população para o lugar de onde vieram. Há quem diga que o nordestino é um povo tão atrasado que aqui o processo de independência se deu de for-ma mais lenta, mais demorada. Só que aí o buraco é mais embaixo.
Sabendo, pois que o processo de independência empreendido por José Bonifácio e D. Pedro primeiro se deu pela via burocrática, embora seja questionável – uma vez que D. Pedro I era o herdeiro por direito do trono de Portugal, era português, iria unir os dois impérios após a mor-te de seu pai, iria, portanto, manter toda a estrutura colonial portuguesa – se deu por lá de forma mais rápida. Enquanto no Nordeste o processo de independência começa somente com a Revolta dos Búzios, ou dos Alfaiates, ou Conjuração (ou Inconfidência) Baiana, ocorrida em 1789 panfletava pela capital baiana clamores de independência, de mudança, de um desejo popular de expulsão dos invasores portugueses. Iniciando em junho de 1822 uma luta armada, empreendida por brasileiros, sertanejos, homens de grosso trato, homens que lutavam não pelos próprios interesses, mas por um interesse de liberdade.
De fato o processo de independência, consumado apenas em 1823 com a vitória dos brasilei-ros no dia 2 de julho se deu com um certo atraso, mas se deu nos braços do povo, e o povo brasileiro foi homenageado como símbolos dessa luta, o caboclo e a cabocla, símbolo da uni-ão de africanos, indígenas e mestiços contra o invasor europeu, e não o príncipe regente de Portugal, uma vez que os sulistas sequer se preocuparam em escolher um brasileiro de fato para ser herói da independência.
Vale lembrar que foi daqui do Nordeste que saíram nomes como Joana Angélica, Maria Qui-téria, Antonio de Castro Alves, importantíssimos para o processo de independência do pais; escritores como Jorge Amado, Guimarães Rosa, José de Alencar, Gregório de Matos e Gilber-to Freyre, homens de fundamental importância para a construção da Identidade Histórica do brasileiro. E o que dizer de Galuber Rocha, Ariano Suassuna, Tom Cavalcante, e Guel Arraes, que trataram de dar um pouco de descontração a um povo marcado pelo sofrimento de produ-zir em uma terra inerte e construir a riqueza dos que agora repudiam-nos e depreciam-nos.
Na política, se destacam nomes como Deodoro da Fonseca, responsável por tornar o Brasil uma República, Ernesto Simões Filho e Anísio Teixeira, que se juntam a Paulo Freyre na ten-tativa de levar educação e cidadania aos brasileiros até então desprovidos desses direitos. E o que dizer de nosso presidente Luís Inácio da Silva, que se construiu politicamente como um homem do povo e governou pelo povo e para o povo, tirando do país a nuvem de atraso sócio-econômico que os governos sulistas e elitistas fizeram parar sobre o Brasil.
O câncer da população brasileira, como os paulistas se referem aos nordestinos trabalhou na construção das indústrias e das cidades sulistas, construíram a Capital Federal, trabalharam e ainda trabalham no chão das fábricas que constroem a riqueza não só de São Paulo, mas de todo o Brasil.
É melhor os que gostam de depreciar os nordestinos terem mais respeito pelos que fizeram e ainda fazem o Brasil ser o que é.
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