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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sobre a verdadeira face do Imperialismo

Por Everton de Carvalho



O Ocidente dominante sempre tratou a África como uma região-problema, como um câncer que atinge o planeta. Nos últimos 20 anos a Somália vem sendo um exemplo gritante da realidade daquele continente, conflitos armados internos, pobreza, fome, doenças. Uma realidade deplorável, que o ocidente dominante (Estados Unidos e Europa Ocidental) fecha os olhos, ou culpam-nos como causadores dos males que eles próprios sofrem.
O mais intrigante é que, antes da chegada o invasor europeu, antes do neocolonialismo[1] implantado pelas grandes potências, havia seca, doença, conflitos armados na África, mas não com a mesma intensidade que existe em nossos dias. Depois que o modo capitalista-agro-exportador foi implantado pelo invasor europeu, que usurpou (e ainda usurpa) de forma desumana as riquezas existentes na África, houve uma acentuação da pobreza, pois a terra que antes era destinada à produção agrícola, ou servia de habitat para os animais de caça passaram a ser usadas para abrigar as grandes plantations. As plantations, por sua vez, abastecem as mesas da maioria das famílias da Europa e América do Norte, ou o leitor pensa que com tantas indústrias e excesso de povoamento ainda existem terras cultiváveis nesses continentes?
O sistema capitalista-agro-exportador que foi acima citado é fortemente marcado pela prática da plantation, consiste em seis elementos básicos: grandes propriedades; cultivo de produtos tropicais; monocultura; emprego de mão-de-obra barata, inicialmente escrava; utilização de recursos técnicos; produção voltada para a exportação. A plantation é um tipo de sistema agrícola (uma plantação) baseado em uma monocultura[2] de exportação mediante a utilização de latifúndios[3] e mão-de-obra escrava. Foi bastante utilizado na colonização da América, sendo mais tarde fora levada para a África e Ásia, principalmente no cultivo de gêneros tropicais e é atualmente comum a países subdesenvolvidos, com as mesmas características, exceto, obviamente, por não mais empregar mão-de-obra escrava.
Os anos de exploração europeia sobre a África, nos moldes do sistema capitalista-agro-exportador deixaram o continente sensivelmente empobrecido, sem muitas fontes de riqueza, uma vez que os invasores europeus usurparam todas as riquezas do continente: jazidas de ferro, outro diamantes, petróleo, etc. Os reinos pré-coloniais foram eliminados no processo de “colonização”, os estados modernos na África seguiram os moldes coloniais, uma vez que os processos de independência foram liderados pelas elites coloniais, fortemente influenciadas pelos ideais europeus de manter as colônias de certa forma dependentes doas metrópoles. Tal dominação, que se dá pelas vias cultural e econômica é conhecida como neocolonialismo ou imperialismo.
Como os Estados modernos desconsideram as fronteiras tribais por isso casos como o de Ruanda, Darfur e Angola são tão comuns no continente, talvez seja uma estratégia para manter a dominação neocolonialista, ou talvez seja um meio pelo qual a indústria bélica[4] ocidental viu uma oportunidade de negócios, a venda de armas para os governos ditatoriais pró-ocidente ou para rebeldes com ideais ocidentais acentua ainda mais os conflitos, e é uma das maiores fontes de lucro para a indústria bélica norte americana, francesa e britânica.
É sabido que em contextos de guerra há um esforço geral da população, pois não há como produzir alimentos com os campos tomados pela guerra se torna impossível produzir, junto com a guerra vem a fome, pois não se produz comida. Para completar a seca compromete ainda mais a situação, pois não falara só comida, mas também água. Assim sendo, os que não morrem na guerra, morrem de fome, de sede ou das doenças que já assolam o continente e os atingem com mais força, pois seus corpos já estão muito enfraquecidos pela subnutrição e desidratação.
A ajuda ocidental não chega como punição aos que são contrários aos seus interesses, mas os mais atingidos com esse descaso são os que mais precisam, dessa ajuda, os que não têm nada a ver com os conflitos. Quando essa ajuda humanitária, que é necessária, chega, é sempre em forma e armas, ou para o governo, como é no caso da Somália, pois o governo fomenta a cultura ocidental e nada faz para resolver problemas existentes no exercício dos direitos humanos, como água, comida, saúde, educação, segurança; ou a rebeldes, como é na Líbia, onde ocidente quer depor o presidente que contraria os interesses dos ocidentais.
A ajuda nunca chega na forma de comida, água ou remédios, sempre como armas. Missões armadas ocidentais, como as retratadas nos filmes Hotel Ruanda, Falcão Negro em Perigo e Lágrimas do Sol são reais. Ao invés de missões pacificadoras como a ocorrida no Haiti, com o objetivo de troná-lo um quintal para os ianques, há missões do tipo blitz, missões de resgate de ocidentais que vivem lá. Um grupo pequeno de soldados é enviado para resgatar um grupo ainda menor de brancos não africanos, e sendo o resgate feito, nada mais acontece, as vítimas da guerra são abandonadas à própria sorte.
Esses filmes retratam a realidade acerca das incursões militares do ocidente na África não se importam em momento algum em levar ou manter a paz, há não ser quando há interesses comerciais, como se deu no Haiti, e no Iraque. Deixam os africanos, incapacitados de resolver os problemas do continente, pois estão desprovidos de quais quer meios após três séculos de exploração capitalista, abandonados à própria sorte.
Isso, é claro, causa ainda mais revolta, revolta que se mostra em ataques de piratas a navios, em atentados na Europa, nas revoltas populares nos subúrbios das grandes cidades da França. Mas ocidente fecha os olhos, prefere que se autodestruam, pois seria um mal necessário para que o discurso neodarwinista[5] e nazista de colocar o homem europeu como o ser humano em sua completude, e de que as outras “raças” eram incompletas, imperfeitas e, portanto, se faz necessário eliminá-las da face da terra.
O ocidente fecha os olhos porque muitos dos africanos não veem importância em tomar uma garrafa de Coca Cola ou comparar um tênis Nike ou Adidas, não veem status em possuir um carro Ford ou BMW, não querem ser cristãos ou ateus, levam a religião e a cultura próprias a sério, não aceitam a imposição do modo de vida ocidental sobre suas culturas. Isso faz deles, aos olhos das potências ocidentais, criminosos cuja sentença é a morte, quer seja pela guerra, pelas doenças, pela fome. Que crime cometeram? Resistir ao imperialismo, ser diferente, ter um modo de vida próprio e não copiar o ocidental.
É nessa hora que se nota o papel de organizações como a OTAN e a ONU, órgãos internacionais a serviço dos interesses comerciais ocidentais, a final, nenhuma sanção foi aplicada aos EUA quando ignoraram a decisão da ONU em proibir a guerra do Iraque em 2003.


[1] Neocolonialismo é como se pode denominar a dominação imperialista, ou seja, a dominação econômica, cultural e ideológica.
[2] Cultivo de um só produto, geralmente em grandes extensões de terra e destinada a exportação, como pro exemplo a soja atualmente, o café no século XIX e a cana no século XVII.
[3] Latifúndio é como são denominadas as grandes propriedades, contínuas ou não de terra.
[4] Indústria bélica é a indústria que produz material de guerra, veículos, armas, munições.
[5] Neodarwinista é a teoria que defende que as espécies vivas foram evoluindo a partir de um ancestral comum e de tanto evoluírem transformaram-se em organismos mais complexos e diferenciados.

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