Por Por Claire de Oliveira
A greve dos
policiais na Bahia reflete o mal-estar de uma corporação historicamente mal
paga e coloca em evidência a necessidade de modernizar esta força que ainda
utiliza métodos herdados da ditadura militar (1964-1985), segundo analistas.
Na terça-feira,
as negociações para pôr fim à greve fracassaram, em meio ao cerco militar aos
cerca de 200 policiais entrincheirados há uma semana no Assembleia de Salvador.
A
paralisação da Polícia Militar gerou uma onda de saques, incêndios e mais de
120 assassinatos em nove dias, mais do que o dobro da semana anterior, o que
obrigou o governo brasileiro a enviar tropas para garantir a segurança do
estado.
Estes
policiais militares armados (a PM) prometeram "resistir" se forem
desalojados à força. Mais de mil soldados cercam a Assembleia desde domingo.
O
Brasil tem uma das maiores taxas de homicídios do mundo - cerca de 40 mil por
ano, segundo o Ministério da Justiça -, dois terços cometidos com armas de
fogo. A esta violência soma-se a impunidade dos criminosos e a corrupção
policial.
"No
Brasil, o policial é mal pago e isto abre caminho para a corrupção. Está mal
preparado e é violento e isso gera muito medo na população. Não foi educado
para a democracia, continua sendo um produto da ditadura militar", disse à
AFP Walter Maiorevitch, ex-secretário nacional antidrogas.
"O
Brasil não pode ainda garantir a segurança pública em um Estado federal. São 27
estados dotados de seus próprios organismos policiais e judiciais que não se
comunicam entre eles", acrescentou Maiorevitch.
Existem
três tipos de forças de segurança no Brasil: a Polícia Federal (PF) - com
melhor formação e mais bem remunerada - e as polícias Civil e Militar de cada
um dos 27 estados.
Um
projeto de unificação das polícias Civil e Militar aguarda há anos na Câmara.
"Temos
um problema histórico de baixa remuneração. Houve promessas feitas durante a
campanha eleitoral e depois Dilma Rousseff retrocedeu. Isto gerou insatisfação
na polícia", disse à AFP Sandro Costa, da ONG Viva Rio, que milita pela
paz e pelo desenvolvimento social.
Segundo
Costa, "a tendência é que as reivindicações dos policiais aumentem"
porque nos últimos meses a PM dos estados de Minas Gerais, Santa Catarina,
Ceará e São Paulo já fizeram greve e obtiveram promessas de reajustes salariais
até 2015.
"Agora
o Rio se prepara; uma convocação de greve foi lançada para sexta-feira",
acrescentou Costa, informando que Brasília é que possui os melhores salários,
enquanto as do Rio estão entre as de salários mais baixos, 1.200 reais iniciais.
"O
Congresso Nacional deve mudar a lei para reformular o treinamento e o
monitoramento dos policiais", declarou o deputado estadual pelo Rio de
Janeiro Marcelo Freixo, presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre
as milícias em 2008 e ameaçado de morte desde então.
"A
PM responde a um código que data da ditadura militar. Além disso, não há
representante do setor. Não fizemos uma transição democrática neste
setor", disse.
Para
a especialista em violência Alba Zaluar, da Universidade do Estado do Rio,
"é evidente que a estrutura militar da PM e dos bombeiros não funciona
mais".
"Sua
formação é para a guerra, não para proteger o cidadão. Devem ter outra
formação, com um plano de carreira. São militares, não podem se sindicalizar e
sua situação salarial é complicada", completou.
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