1. Introdução
O que diferencia o
homem dos demais animais é a sua alta capacidade de organizar-se de
organizar-se no individual e socialmente. Os outros animais, aparentemente
irracionais, resumem o seu trabalho à busca de alimentos e à defesa do
território, isso quando há especializações entre os ditos irracionais. Mas, na
maioria dos casos, todos os integrantes do grupo buscam alimentos. O trabalho
dos animais ditos irracionais não gera excedentes, quando gera são suas fezes,
que são totalmente utilizadas pelo meio-ambiente.
O homem, um ser
que se diz racional, focou seu trabalho na
produção de excedentes, supérfluos, uma ação que gera um bônus imenso, mas um
ônus maior ainda. A busca pela qualidade de vida e por uma maior longevidade,
por um trabalho físico cada vez menor, para alguns, levou a uma imensa
especialização de funções no trabalho que é exclusiva do homem, e que determina
o grau de desenvolvimento de cada sociedade. As especializações no trabalho vão
desde a divisão das tarefas na família, ao que geógrafos chamam de DIT, Divisão
Internacional do Trabalho.
Quanto mais
especializada é a mão de obra, ou seja, quanto mais divijdido é o trabalho,
mais desenvolvida é a sociedade, mais moeda circula, mais capital é acumulado
pelos que detém os meios de produção e mais excedentes são produzidos, entre
eles o lixo. Em sociedades mais primitivas, ou pouco desenvolvidas o produtor é
o transportador e em muitos casos é o comerciante, e pode ser até mesmo o
consumidor a quem a produção é destinada.
O desenvolvimento
das sociedades ocorre de forma quase imperceptível, em revoluções que duram
décadas, séculos ou milênios. Várias gerações em uma lenta e constante
transição que se dá de forma quase imperceptível, percebida apenas quando se
compara décadas. Em nossa época, em poucos anos, menos da metade de uma década.
Três revoluções podem ser apontadas como imprescindíveis para o atual estado da
humanidade, não que as outras foram importantes, mas a Revolução agrícola, a
industrial e a científico-informacional representaram uma importância impar
para a humanidade, e um grande impacto no modo de vida das diferentes
sociedades.
2. Revolução
Agrícola
A Revolução Agrícola
marcou a passagem do período Paleolítico para o período Neolítico, marca também
o fim do nomadismo e o início da vida sedentária, e outros avanços
importantíssimos até hoje. A revolução agrícola se deu quando o homem percebeu
que poderia produzir a própria alimentação, e não só coletá-la na natureza.
Ocorreu que houve
logo uma descoberta muito importante para a humanidade, o excedente economico.
O excedente econômico é a diferença entre o que é produzido e o que é custo
dessa produção, o custo de produção compreende tudo o que é utilizado para
produção, desde o consumo de água e energia, desgaste das máquinas, alimentação
dos trabalhadores. O excedente é o que sobra quando os custos da produção são
bancados. A descoberta do excedente teve outras consequências, as mais
importantes foram o desenvolvimento da escrita e a divisão social do trabalho.
Quando o homem
percebeu que poderia produzir mais do que o necessário ao seu consumo, e que
era necessário proteger as terras férteis, bem como gerir todas estas funções. A
escrita surge com a necessidade de uma destinação do excedente economico. Era
necessário distinguir o que estava estocado, quando fora estocado e a qual a
finalidade do estoque, assim ocorreu o desenvolvimento da escrita.
A necessidade de
sistematizar os estoques de excedentes e de gerir a produção de alimentos e a
necessidade de proteger as terras férteis levaram ao desenvolvimento de duas
instituições presentes em nosso cotidiano até a atualidade: o Estado e o
Exército, ao Estado cabia a gestão de todas as funções, bem como a apropriação
e distribuição da produção, bem como a armazenagem dos excedentes e a proteção
das terras férteis e a busca por novas terras.
A Revolução Agrícola
teve outros desdobramentos, como o surgimento das cidades, elas foram uma forma
de melhor utilizar as terras, uma vez que as pessoas se agrupariam em uma parte
não tão fértil do território e cultivariam as terras melhores, utilizando-as
melhor a Revolução Agrícola então trouxe como principais avanços o
desenvolvimento da escrita, a criação do Estado e do Exército e o surgimento
das cidades.
3. Revolução
Industrial
Ao tempo em que
estima-se que a Revolução Agrícola ocorreu em algumas centenas de anos, a
Revolução Industrial se durou muito, durou dois séculos. Iniciada em meados do
século XVIII, prolongou-se até meados do século XX, e foi, além a Agrícola, a
mais impactante foi a Industrial, esta tirou a concentração de população no
campo para a cidade, por uma gama de motivos:
I.
O
cercamento das terras para a criação de carneiros cuja lã alimentava a
industria têxtil;
II.
A
apropriação dos campos por particulares, criando a figura do capitalista;
III.
O
estabelecimento de fábricas próximos às cidades, para facilitar a localização.
Esses
elementos associados forçaram a migração de muitos camponeses para a cidade, lá
iriam trabalhar em fábricas, em condições de trabalho que serão abaixo ditas.
As cidades, por sua vez, cresceram assustadoramente em poucos anos, as
tecnologias foram melhorando, mas as condições de trabalho melhoravam em um
passo cada vez mais lento.
Aprendeu-se por
muito tempo que os livros de História que as indústrias surgiram na virada do
século XVIII para o XIX. O que é um erro, durante a Idade Média existia sim uma
atividade industrial voltada para a produção de mercadorias, eram as chamadas
Corporações de Ofício, nas quais artesãos viviam em conjunto em uma propriedade
coletiva. Uma grande oficina na qual eles produziam artefatos de tecelagem,
olaria, sapataria, alfaiataria.
Outro erro existente
nos livros didáticos é dizer que não havia comércio na era medieval. Essas
corporações tinham uma finalidade comercial, pois produziam o que pessoas não
conseguiam comprar por algum motivo, havia feiras também, nas quais o pouco
excedente era trocado pelo que não tinha como ser produzido naquela
propriedade. Na verdade o comércio, assim como a atividade industrial manufatureira
voltada mais pra o valor de uso do que para o valor de troca, mas o que
diferencia as Corporações de Ofício das fábricas, da atividade industrial
moderna é a propriedade dos meios de produção. Se nas Corporações de Ofício os
meios de produção pertenciam aos trabalhadores, a matéria prima muitas vezes
também pertenciam aos trabalhadores, na Indústria estes pertencem ao
capitalista.
O capitalista é
alguém que, enriquece à custa do trabalho alheio. Tal figura surge após o
Renascimento Carolígio, que ampliou as redes comerciais da Europa e
possibilitou mais uma especializações no trabalho, surgiam mais duas classes: o
mercador itinerante e o comerciante local. Ambos se complementam, pois o
mercador itinerante leva produtos de uma região pra outra, tornando o consumo
de produtos impensáveis possível. O mercador era o indivíduo que levava azeite
de oliva e vinho pra o centro e norte da Europa. O comerciante local era quem
muitas vezes comprava do mercador e vendia mais seguramente na própria cidade,
bem como se apropriava de excedentes a fim de atender às necessidades imediatas
da população local.
O capitalista então
se apropria de terras e de corporações de ofício, no campo ficam o que restou
do campesinato, os trabalhadores do campo; os que migram para a cidade, devido
à privatização dos campos, e criou o operariado. Ambas as classes dão origem a uma outra classe: o
proletariado.
O proletariado é uma
classe que pode ser definido de diversas maneiras. A mais antiga refere-se á
origem da palavra, na Antiga Roma, o proletariado era a classe formada por
pobres livres, pessoas pobres que nada tinham a oferecer ao Estado se não os
filhos, a prole, daí o nome proletário, ou seja, o que faz parte do
proletariado. Em resumo o proletariado é a classe que faz os trabalhos mais
indignos, mais humilhantes. Na época moderna o proletariado foi classificado
como a classe que não pode sobreviver a menos que venda o único vem que lhe
resta; a força de trabalho.
Na época moderna o
proletariado se dividiu em duas classes principais: o operariado e o
campesinato. O operariado é composto pelos trabalhadores urbanos, os
trabalhadores das fábricas, minas, portos etc., enquanto o campesinato é
composto pelos trabalhadores rurais: agricultores e pastores. O que os coloca
como proletários é a expropriação dos meios de produção. Antes eram
trabalhadores que determinavam o seu ritmo de trabalho, o que, como e quanto
iam produzir, para quê iam produzir e a quanto, como e para quem venderiam o
excedente. Quando o capitalista se apropria dos meios de produção tudo isso é
determinado por ele. O trabalhador é desprovido de todos os bens, é alienado,
excluído do sistema de produção.
Se antes o
trabalhador produzia para si, no sistema capitalista ele produz um bem com
matéria-prima e ferramentas de propriedade do capitalista, esse bem
transforma-se em mercadoria e é comercializada pelo capitalista. O trabalhador
então vai a uma loja e compra esse bem a um preço que supera em muito o custo
de produção. A diferença entre o preço de venda e o custo de produção é
apropriada pelo capitalista, proprietário da matéria-prima e dos meios de
produção, e uma parte do custo de produção se destina ao trabalhador, como
pagamento pelo uso da sua força de trabalho.
4. Da
exploração do proletariado
A busca pelo lucro e
a sua conversão em capital se tornou um dos pilares básicos do capitalismo. Os
camponeses que foram expulsos de suas terras, e os filhos do operariado
formaram o que alimentou a expansão do sistema capitalista, formaram o Exército
Industrial de Reserva. Este é formado pelas pessoas que ainda não estão
inseridos na máquina Industrial, mas que certamente trabalharão como operários.
O ciclo do capitalismo
se baseia na expansão, assim, quando não houver mais para onde expandir, o
sistema entra em crise. Uma classe trabalha para produzir uma riqueza que será
apropriada pela mesma classe.
A classe que trabalha, produz mercadorias, que precisam ser
compradas, para que possam continuar a ser produzidas. Quem compra essas
mercadorias é a própria classe trabalhadora. Ou seja, a classe trabalhadora
paga seu salário e é forçada a consumir para que possa trabalhar e assim ter
chance de sobrevivência.
Quando mais
consomem, mais têm de consumir, quando mais consomem, mais lucro é gerado, e
quando mais o capitalista lucra com o trabalho do proletariado, mais lucro ele
quer ter, para isso expande suas redes comerciais, seus mercados consumidores,
mas chega-se ao ponto em que não há mais para onde expandir, e o sistema entra
em crise.
Assim a classe
trabalhadora vive acorrentada ao consumo, para que possa sobreviver. Chegando
assim à outra máxima da sociedade de classes: uma classe trabalha de modo que
garante o bem-estar da outra classe. Sempre em um jogo de explorador versus explorado: reis e súditos;
patrícios e plebeus, senhores e servos (escravos), e por fim, patrões e
empregados. Sempre uma classe trabalhando em função do bem-estar da outra.
Como dito acima a
Revolução Agrícola possibilitou a criação do Exército, do Estado e,
consequentemente, a sociedade de classes. E o advento da sociedade de classes,
ao especificar o Estado com a função de gerir a produção de bens e a proteção
das terras, e ao especificar ao Exército como protetor do território, os
sacerdotes como representantes de entidades superiores. Até a Revolução
Francesa a autoridade religiosa e a política se confundiam, estando confluídas,
trocando interesses, criando assim as famosas três ordens da sociedade feudal:
sacerdotes, guerreiros e trabalhadores; os que trabalham, os que rezam e os que
guerreiam. Cria-se aí a máxima da sociedade feudal: “O cavaleiro e também o
padre vivem daquele que faz o trabalho”.[1]
Essa citação
confirma a estratégia da sociedade de classes, uma classe exerce poder
político, econômico e ideológico sobre a outra. Para legitimar esse poder de
uma classe sobre a outra, há o Estado, a instituição que exerce o poder, e ela
usa de dois braços para legitimar o poder: a Igreja (autoridade religiosa) tem
a função de estabelecer a ordem, determinar que classe vai dominar as outras, quando
a classe dominada tenta quebrar a ordem o exército (polícia) é acionado.
O poder político é o
poder organizado de uma classe sobre a outra, e todos os aparelhos e agências
do Estado têm a função de legitimar essa ordem. Exército ou a polícia, agências
de regulação da educação e da economia acabam por sacramentar a organização
social e a conformar as pessoas acerca da sua posição na hierarquia social, bem
como as relações entes as classes dominantes e as classes dominadas.
É importante
compreender como as relações de trabalho e distribuição de riqueza, pois é esta
que vai determinar as relações de classes. O Estado nada mais é do que um grupo
da classe dominante que busca estratégias para manter-se no poder, e governam,
mesmo em regimes ditos democráticos, segundos os seus interesses. As
instituições que regulam as relações econômicas e de distribuição do
conhecimento o fazem de modo a garantir a hegemonia das classes dominantes.
É importante para as
classes dominantes monopolizarem o conhecimento científico, intelectual,
tecnológico porque essa é a ferramenta necessária para a manipulação das outras
classes, é importante para elas, porque se o conhecimento acerca das relações
de trabalho e meios de produção chegaram ao conhecimento das classes dominadas,
o sistema capitalista explorador entra em crise, pois a classe trabalhadora
pode quebrar a ordem social vigente, dando lugar a um outro tipo de sociedade,
que nem de longe seria a capitalista tal qual a conhecemos.
Bibliografia
·
ENGELS,
Friedrich. Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem.
·
HUBERBAN,
Leo. História da riqueza do homem.
·
HUNT,
E.K.. História do pensamento econômico.
·
LE
GOFF, As raizes do ocidente medieval.
·
MARX,
Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do
Partido Comunista
·
ROCHA
Sobrinho, João. Uma História do exercício
da cidadania no Brasil.
·
THOMPSOM,
Edward. Constumes em comum.
Filmes
e vídeos indicados
·
Tempos modernos
·
Ilha das flores
·
História das coisas
[1] Ver Leo Huberman, História da Riqueza do Homem,
ou P. Boissonade, Life and work in
medieval Europe: fifth of fiftennth century.
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